Contexto
Diabetes e resistência à insulina (IR) são comuns em pacientes coinfectados pelo vírus da imunodeficiência humana e hepatite C (HIV-HCV), uma população também preocupada com o uso elevado da cannabis. A cannabis tem sido associada à redução do risco de IR em algumas pesquisas de base populacional. Determinamos se o uso de cannabis estava consistentemente associado à redução do risco de IR no HEPAVIH, uma coorte nacional francesa de pacientes infectados pelo HIV-HCV.
Método
Foram coletados dados médicos e sociocomportamentais do hepavih (por meio de questionários auto-administrados anuais). Foram utilizados 60 meses de dados de acompanhamento para pacientes com pelo menos 1 visita médica onde o IR (utilizando avaliação do modelo homeostático de resistência à insulina [HOMA-IR]) e o uso de cannabis foram avaliados. Foi utilizado um modelo de regressão logística mista para avaliar a associação entre o risco de IR (HOMA-IR > 2,77) e o uso de cannabis (ocasional, regular, diário).
Resultados
Dos 703 pacientes incluídos no estudo (1287 atendimentos), 323 (46%) tiveram HOMA-IR > 2,77 para pelo menos 1 visita de acompanhamento e 319 (45%) relataram uso de cannabis nos 6 meses anteriores à primeira visita disponível. Os usuários de cannabis (independentemente da frequência) tiveram menor probabilidade de ter homa-ir > 2,77 (odds ratio [intervalo de confiança de 95%), 0,4 [.2–5]) após ajuste para correlações/confundimentos conhecidos. Duas análises de sensibilidade com valores HOMA-IR como variável contínua e um valor de corte de 3,8 confirmaram a associação entre o risco de IR reduzido e o uso da cannabis.
Conclusões
O uso de cannabis está associado a um menor risco de resistência à insulina em pacientes com HIV-HCV. Os benefícios das farmacoterapias à base de cannabis para pacientes preocupados com o aumento do risco de IR e diabetes precisam ser avaliados em pesquisas e práticas clínicas.
